Não obstante todo o contexto que envolveu a candidatura do Cante Alentejano a património imaterial da humanidade e que temos neste momento conhecimento que foi bem sucedida, gostaria de deixar aqui uma nota de apreço pela perseverança das gentes do povo que ao longo dos tempos e dos espaços manteve uma forma única de comunicar e expressar um sentimento colectivo de uma população, de uma região que historicamente foi ( e ainda o é ) flagelada por determinismos políticos e económicos que em muito moldaram a maneira de ser das gentes alentejanas.
Esta manifestação cultural está no seu todo ligada ao culto da terra e à religião, uma mística sentida pelo isolamento geográfico destas terras do interior alentejano, no sofrimento das populações que viviam o seu quotidiano sem grandes pretensões, quase que deixando cair o significado da sua existência à miséria de ganhar o pão no fim da jorna.
A meu ver o maior legado que recebemos do cante é o sentimento de pertença à terra, da camaradagem, da família e da fé, aqui reside provavelmente a forma encontrada destas gentes da vida ter significado, da universalidade de ser e sentir, e foi através do cante que as pessoas ganhavam alento para continuarem com sentido o dia que ai vem.
Ao escutarmos o cante alentejano rapidamente nos apercebemos dos elos que forjam as ligações materiais ao espírito : "...eu sou devedor à terra e a terra me está devendo, a terra paga-me em vida e eu pago à terra em morrendo ..."
O Cante Alentejano é uma homenagem que o humilde povo alentejano presta à terra, à Mãe e a "quem lá de cima" lhes dava sustento...e por último a um tintinho (para afinar a voz) ...